150 Anos do comboio a norte do Douro

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Linha do Minho e Ramal de Braga | 20 de maio 1875 – 20 maio de 2025.

A Câmara Municipal de Braga, a CP – Comboios de Portugal, a Infraestruturas de Portugal comemoraram os 150 anos do Comboio a norte do Douro – Linha do Minho e Ramal de Braga, assinalando a chegada do comboio a Braga, a 20 de maio de 1875.

O evento, que pretendeu ser uma homenagem à importância histórica e cultural do transporte ferroviário na região e no país, começou com uma reinterpretação simbólica da viagem inaugural realizada em 1875, com Pedro Moreira, presidente do Conselho de Administração da CP, Miguel Cruz, presidente do Conselho de Administração Executivo da Infraestruturas de Portugal, e Olga Pereira, vereadora da Câmara Municipal de Braga, a embarcarem na Estação de Campanhã, no Porto, rumo a Braga. Durante o percurso, houve animação a cargo dos “Ardinas Braga25”, interpretados por atores da companhia Malad’arte, e do grupo de cantares da Academia Sénior do Município de Braga, que se fez representar por 120 seniores.

Chegados ao destino, foi inaugurado um mural evocativo desta data histórica, que marca os 150 anos da chegada do Comboio a norte do Douro. Seguiu-se a conferência “Braga – Presente e Futuro do Caminho de Ferro na Região”, em que foram abordados temas como a importância e as vantagens do modo ferroviário, as mais-valias da alta velocidade e os investimentos que têm sido feitos para melhorar a qualidade da ferrovia no país.

“A ferrovia foi determinante para o crescimento da cidade e continua a ser essencial para garantir uma mobilidade eficiente, segura e sustentável”, afirmou a vereadora da Mobilidade do Município de Braga, Olga Pereira. “Braga está em crescimento a nível populacional e esse facto deve obrigar o estado central a dar respostas e investimentos à altura desse crescimento, com mais e melhores ligações que vão de encontro às necessidades da população. Acreditamos que Braga pode e deve estar na linha da frente da modernização da ferroviária em Portugal e esta celebração é também um compromisso com o futuro da mobilidade na nossa cidade e região”, defendeu a autarca.

O Presidente da CP, Pedro Moreira, salientou a importância da ferrovia para a sustentabilidade. “O comboio é o modo de transporte mais sustentável de todos, com menos emissão de gases com efeitos de estufa e aquele que permite atingir as metas ambientais que estão definidas. O comboio deve funcionar como a espinha dorsal da mobilidade, face à relevância que tem como transporte de massas”, referiu, lembrando que a CP tem apostado na recuperação de material circulante e lançou concursos para aquisição de novos comboios. “O trabalho que temos feito, aliado a algumas políticas de incentivo à utilização do transporte ferroviário, como os passes gratuitos para os jovens ou o Passe Ferroviário Verde, tem alavancado a transferência modal para o comboio e conduzido a um aumento de passageiros substancial. No ano passado, transportamos 188 milhões de passageiros. Só a estação de Braga foi utilizada por 2,5 milhões de passageiros, um aumento de 20% de utilização da linha em relação a 2023”, disse Pedro Moreira, destacando que a CP quer continuar a apostar na renovação da frota e na melhoria dos serviços.

Por sua vez, o presidente do Conselho de Administração Executivo da Infraestruturas de Portugal frisou que tem havido um esforço significativo de modernização do transporte ferroviário. “Estamos apostados na alta velocidade, uma solução transformadora para o transporte ferroviário. As análises de procura realizadas, e que foram cautelosas, estimam que, no eixo Lisboa-Porto, haja a triplicação do número de passageiros”, adiantou Miguel Cruz. Acrescentou, também, que em 2024 foi feito “o maior volume de investimentos dos últimos 20 anos”, um total de 776 milhões de euros, sendo que 625 milhões de euros foram aplicados na requalificação e modernização da Rede Ferroviária Nacional. “As perspetivas são positivas, a qualidade de serviço tem vindo a aumentar e acredito que, no futuro, teremos um serviço muito mais eficiente, com ligações coordenadas para o resto da Europa e a ferrovia como principal meio de transporte de passageiros”, concluiu.


Afirmação do comboio


O transporte ferroviário começou a afirmar-se há 2 séculos, pela capacidade para transportar grande quantidade de pessoas e cargas, vencendo grandes distâncias em pouco tempo e em segurança. Portugal foi o 14º país do mundo a ter caminhos de ferro. Com a Regeneração reuniram-se as condições para iniciar a construção da rede ferroviária nacional, cuja figura de destaque foi António Maria Fontes Pereira de Mello. Em 28 de Outubro de 1856, em bitola europeia (inglesa) inaugurava-se o caminho de ferro em Portugal, contribuindo para o desenvolvimento do país.

Com o objetivo de ligar o país ao resto da Europa, e aproximar as duas principais cidades do reino, em 1863, a Companhia Real dos Caminhos de Ferro (CR) cumpria o desiderato de colocar o comboio na fronteira de Elvas-Badajoz e, no ano seguinte, em Vila Nova de Gaia. Para concluir a ligação de Lisboa com o Porto, e vencer o obstáculo do rio Douro, entre Gaia e o Porto, houve que aguardar até novembro de 1877 pela solução adequada, e inovadora, da ponte Maria Pia, construída pela Casa Eiffel.


Contexto e significado da construção das Linhas do Minho e do Douro


A construção das Linhas do Minho e do Douro, essencialmente tarefa do Estado, suportada no conhecimento e capacidade da engenharia portuguesa – considerada a “carta de alforria” dos engenheiros portugueses, que pôs fim à subordinação a técnicos estrangeiros na matéria – resulta da pressão das populações destas províncias desde 1845.

Estudado entre 1862 e 1864 o terreno na região norte pelo Eng.º Sousa Brandão, após decisão sobre a localização da ponte sobre o Douro e da estação comum às Linhas do Minho e Douro e à Linha do Norte, em 12 de julho de 1872, fora iniciada no Porto a construção do “caminho de ferro do Minho” até Braga, em bitola ibérica de 1,667m, liderada pelo Eng.º Nuno Augusto Taborda, e a execução dos trabalhos sob a responsabilidade do Eng.º João Joaquim de Matos.

Na ata da reunião, realizada a 23 de agosto de 1872, a Câmara Municipal de Braga refere a sua presença no ato de inauguração dos trabalhos no Porto, e que telegrafara ao Ministro das Obras Públicas agradecendo a “iniciativa e o esperançoso futuro que assim se prepara”.

A ligação ferroviária do Porto a Braga foi desde o início encarada como estratégica, assumindo um papel destacado no estímulo ao comércio, à indústria e à mobilidade local.
Não sendo possível a linha do Minho seguir a Valença por Braga, foi em Nine que tomou a direção do norte, via Barcelos, Tamel, Darque, Viana do Castelo, Caminha, Cerveira e Valença, numa extensão de 134 km.


20 de maio 1875: Braga jubila com a chegada do comboio


Há 150 anos, a 20 de maio de 1875, circulava o primeiro comboio a norte do Douro, entre o Porto e Braga, acontecimento repetido em outubro até Penafiel, na Linha do Douro, imortalizado pelo pintor e ceramista Jorge Colaço no friso policrómico que abraça a parte superior das paredes do átrio da estação de Porto São Bento.

No Porto, na estação do Pinheiro - atual Campanhã - achavam-se muitas pessoas. Dentro do recinto da Estação estavam as autoridades civis e militares, cônsules, titulares e mais convidados. Às 10 e meia chegaram Suas Majestades precedidas pelos senhores Ministros da Guerra, Obras Públicas, Fazenda e estrangeiros…

O reverendo prelado procedeu à bênção da máquina nº 1 – “Porto” que tinha na frente as armas portuguesas e aos lados as bandeiras de Portugal e de Itália, benzendo de seguida as máquinas nº 2 “Braga” e nº 3 “Ave”. Às 11 e um quarto partiu o comboio no meio de aclamações da multidão. Meia hora depois partiu outra máquina tirando 16 vagons em que eram transportados os corpos gerentes. 

Nas estações de Rio Tinto, Ermesinde, S. Romão do Coronado, Trofa, Vila Nova de Famalicão e Nine ouviam-se bandas de música, sendo o comboio saudado com entusiasmo pela população, tal como aconteceu em Arentim. Aliás, o comboio tem sido um transporte “democrático” dado que, apesar da classe em que se viaje, todos chegam ao destino à mesma hora.

Na estação de Braga a família Real era esperada por todas as autoridades civis, pela CM, comissão de festas e principais pessoas da cidade. Seguiu-se a cerimónia na Sé. Às 5 e um quarto largou de Braga o comboio inaugural, de regresso ao Porto.


 Braga: destino de origem da modernização da oferta da CP


Após a entrada de Portugal na CEE, em 1986, o plano de “Modernização e reconversão dos caminhos de ferro 1988-1994” preconizava a concentração da ação nos transportes de passageiros suburbanos de elevada densidade e de longo curso entre aglomerados urbanos principais com reduzido número de paragens, objetivando-a com a eletrificação do eixo Porto-Braga e elevando a qualidade nos serviços urbanos e Intercidades.

“Ir e voltar no mesmo dia” foi o slogan utilizado pela CP para, em 29 de maio de 1988, lançar o serviço Intercidades, ligando Lisboa a Braga. Num conceito de transporte ferroviário com característica de comboios rápidos, o slogan transmitia a ideia de ligação da “grande metrópole” às principais cidades e aos centros de reconhecida importância económica, populacional e regional.


2004: Duplicação e eletrificação da Linha do Minho (Lousado - Nine) e do Ramal de Braga


Num processo de modernização da rede ferroviária, 129 anos após a abertura ao público do serviço de comboios, a 21 de abril de 2004, a REFER, atual IP-Infraestruturas de Portugal, disponibilizou “à exploração ferroviária uma nova infraestrutura na ligação Porto-Braga”, cujas alterações se traduziram em “elevados padrões de conforto e segurança”, e permitem ligar diretamente Braga a Faro.

O objetivo de otimizar a oferta, pelo aumento das “condições de capacidade”, traduziu-se no eficaz serviço urbano prestado pelas automotoras UME, o mais moderno e recente material circulante da CP-Comboios de Portugal, na introdução do serviço Alfa pendular direto de Lisboa e no reforço do número de comboios Intercidades.
O projeto da nova estação de Braga, que preservou as ruínas arqueológicas de um balneário de época anterior à “romanização”, melhorou as acessibilidades, contemplou a construção de dois edifícios e manteve, para fins culturais sob tutela da Autarquia, o edifício de origem.


Braga: perspetivas de futuro


Considerado o comboio como elemento de coesão social e territorial, no Plano Estratégico 2022-2030 o país prepara a construção da Linha de Alta Velocidade que ambiciona ser um novo fator estruturante no desenvolvimento e na mobilidade nacional. A cidade de Braga está inserida no troço Porto-Vigo.